Jornal ESTADO DE MINAS...
FERNANDO BRANT
OS MENINOS E JUAN MIRÓ
Cantando e contando histórias vai-se construindo uma possibilidade de criação de melhores cidadãos
As crianças de 5 anos aprendem na escola a magia do traço de Juan Miró. São pequenas, mas falam com uma desenvoltura admirável sobre o que aprenderam. As características essenciais da pintura surrealista contrastando com o olhar real de outro artista, que retrata animais e objetos que todos conhecem. A simples percepção da diferença de foco já é um achado.
A sensibilidade menina percebe a estrela sempre presente nas obras do pintor catalão. E vê que as pessoas que ele traça na tela são desconstruídas, misturadas, todos os pedaços lá estão, mas de forma desorganizada, diferente.
Agora, eles vão tentar reproduzir o que aprenderam. E vários Mirós surgem na sala, felizes. Pais e avós, orgulhosos, sorriem pelos olhos e pelas bocas. A arte educa. Um dos caminhos é a música. E como a meninada gosta de cantar. Há, há alguns anos, movimento de criação de canções de qualidade para eles. De várias cidades do país chegam melodias e letras para a garotada, superiores ao que é oferecido aos adultos nos meios de comunicação de massa.
Cantando e contando histórias vai-se construindo uma possibilidade de criação de melhores cidadãos. Pelos que estão no meu raio de influência, procuro fazer a minha parte.
O desenho é outra vereda para se atiçar a sensibilidade dos pequenos. Eles movem suas mãos conduzindo lápis, giz e pincéis, e preenchem o vazio do papel de acordo com seu controle motor, sua personalidade e imaginação.
Muitas escolas, hoje, não querem repetir o erro cometido contra os que são pais e avós agora. Os meninos vinham da infância cheios de vontade de invenção e eram jogados em um ensino formal, que lhes tirava toda sede de criar.
As aulas de desenho que tive no colégio fizeram com que odiasse aquela matéria. Professor é essencial, mas é uma profissão que pode abrir ou fechar, encaminhar ou desviar o rumo de seus alunos.
Mas o que sinto nesta escola que visito sempre é que se usam arte e a beleza para fazer a criançada crescer. A educação tem de ser um jogo agradável, um despertar para o conhecimento. E quando se dança, se canta, se pinta e se brinca. Quando há sensibilidade nos mestres, pois são mestres essas moças que cuidam dos primeiros passos dos que amamos, toda esperança e otimismo têm razão de ser.
Os desenhos desses meninos me lembram o que nunca mais consegui fazer. Admiro a inocência e a coragem implícita que eles têm de se aventurar entre rabiscos que se tornam coisas belas. Dou um beijo na menina que me fez vir a esse encontro e saio pela rua inundado de felicidade.
Os desenhos desses meninos me lembram o que nunca mais consegui fazer. Admiro a inocência e a coragem implícita que eles têm de se aventurar entre rabiscos que se tornam coisas belas. Dou um beijo na menina que me fez vir a esse encontro e saio pela rua inundado de felicidade.
Estado de Minas/Caderno de Cultura-pág.10/14dez2011
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