domingo, 27 de novembro de 2011

ARTE DIGITAL, AS MUDANÇAS DO VOCABULÁRIO CONTEMPORÂNEO DE ARTISTAS DE MINAS EM SALA DE AULA

                                                       FAD - Festival de Arte Digital 2011/BH

O vocabulário contemporâneo mudou, assim como as plataformas de criação utilizadas por artistas no desenvolvimento de suas obras. Há conteúdo artístico elaborado por meio de computadores, softwares, hardwares, celulares, filmadoras, câmeras digitais e dispositivos eletrônicos e digitais com baixa ou alta tecnologia. Para muitos, a arte atual não se orienta para rupturas, mas para encontros, misturas que fazem seus elementos se renovarem. A mistura, o caos, a multiplicidade de possíveis conexões é objeto dessa nova arte.

Para Alexandre Milagres, coordenador de ações pedagógicas, co-produtor dos laboratórios e seminários das edições do Festival de Arte Digital, a web arte procura estabelecer novas conexões, novos arranjos, novas formas de interação em vez de se diferenciar de alguma estética.

Para ele, "definir a videoarte é tão difícil quanto definir a própria ideia de vídeo. Podemos começar pensando que vídeo é apenas o que é gravado pelas câmeras digitais, mas vai, além disso, pois essa imagem é levada para computadores que a cortam e a alteram também, e ainda vamos mais além, pois não somente câmeras produzem imagens digitais em movimento. Computadores também produzem imagens digitais em movimento sem ter que apontar qualquer lente para o mundo. Imagens de puros bytes, de várias formas, com movimentos variados, cores variadas, efeitos variados e assim por diante. A videoarte é então a arte do vídeo, a arte da imagem captada ou confeccionada digitalmente, da imagem editada, alterada, misturada e transformada em outras, ainda em movimento. A videoarte é a arte da produção audiovisual digital, seja qual for a fonte imagética dessa produção, desde que o resultado sejam imagens que se desenrolem quadro a quadro, frame a frame, 15, 24, 30, 60 ou mesmo 1000 frames por segundo. Mas essa é apenas uma definição técnica. Se formos atrás de uma definição conceitual, a conversa vai muito mais longe. Há quem chame a arte do vídeo como a arte do entreimagens, uma arte que pensa por meio de imagens, ou o mais importante, uma arte que pensa as imagens do mundo, as representações, as máscaras, o visível, o imaginável. Uma arte que as pensa, mostrando suas superficialidades e suas profundidades, ou apenas brincando com elas, fazendo-as colidirem, como galos de briga, como imagens nervosas."

E sobre a questão da videoarte questionar a própria definição de arte, ele assim discorre:
"Vai depender de qual definição de arte estamos falando. A videoarte é parte importante para entendermos a definição da arte contemporaneamente, uma arte que mistura movimentos, mistura estilos, mistura imagens, bricolando épocas e artistas de momentos distintos e levando-os e exibindo-os em um mesmo espaço. Essa arte é parecida com a própria videoarte e podemos inclusive dizer que nasceram em um mesmo momento. É claro que “arte” é um termo mais antigo, porém, um termo cuja definição e contextos se alterou muito com o passar dos tempos, e se falarmos do que se tornou dos anos 1960 para cá, falaríamos de um percurso muito próximo ao próprio percurso da videoarte que “nasceu” nessa época e “viveu” os mesmos problemas, questionamentos, dúvidas que a própria arte contemporânea viveu. Falar de arte hoje, assim como falar de videoarte, é falar de misturas, de convivência de técnicas e estilos, de apropriações, de colagens, de ações que ligam a arte ao mundo e às pessoas."

Sobre a diferença entre videoarte, cinema e televisão, ele pontua da seguinte maneira:
"Seria tudo mais simples se fosse apenas assim: Videoarte é um meio audiovisual eletrônico/digital com produtos que começam e terminam em um certo tempo. Cinema é um meio audiovisual feito em película, com produtos que começam e terminam em um certo tempo. E televisão é um meio onde as imagens eletrônico/digitais são exibidas continuamente sem parar. Mas essas divisões não ajudam muito se pensamos que cinema também vendo sendo feito digitalmente, que no vídeo existem muitas imagens feitas inicialmente em películas 8mm, e que a televisão de hoje está cada vez mais próxima de se tornar um banco de imagens, ao invés de apenas um equipamento que somente exibe infinitamente. Pra ser sincero não gosto muito de dividir as artes. Elas funcionam melhor quando retiramos as diferenças e as aproximamos. No fundo, são todas artes do movimento e do tempo, produzindo imagens que nos fazem lembrar do que já vivemos e a imaginar o que nunca vivemos."

Sobre o fato de a fotografia ter demorado tanto para ser aceita como arte (e muitos ainda, não a considerarem) e sobre como a videoarte está presente nos mais importantes eventos internacionais de arte em tão pouco tempo, dessa forma ele pondera:
"Ela está presente, ou quase onipresente, pelo simples fato de ser maleável e propícia aos encontros e às misturas tal como a própria arte contemporânea é. Suas qualidades técnicas ajudam muito nisso. Muitos são os artistas hoje, e falo não somente dos ditos videoartistas, que querem levar para suas exposições, para dentro de suas instalações uma imagem de rua, uma imagem do mundo em movimento. O vídeo é a ponte dessa arte com esse mundo vivo e em movimento. Por isso a ideia de “entre” ligada ao vídeo. A videoarte prolifera nas galerias não somente enquanto uma proposta estética, mas muitas vezes como uma ponte dos artistas com algum elemento que só seja possível entrar em sua obra através do vídeo."

Sobre a identificação do elemento humano, na atualidade, com os avanços da tecnologia, ele destaca que:
"o elemento humano está como sempre esteve, na delicadeza, na rememoração, no sonho, na coragem, na proposta de uma mistura nunca antes vista. O humano está nas decisões, nas escolhas, nos desejos tornados imagens. Os avanços tecnológicos sempre trarão novos leques de possibilidades, mas a criatividade para utilizá-los não vem junto. Por isso, há tanta videoarte ruim, tanta webarte ruim, instalações interativas ruins, pois tecnologia não quer dizer um bom arranjo. Mas quando algo nos toca, quando uma webarte, uma videoarte, uma instalação me impressiona, não é apenas pelo seus aparatos ou efeitos, mas principalmente por existir um artista por trás delas que as utilizou para me encaminhar entre sensações que não esperava."

E com relação a possíveis especificidades na produção brasileira ou mineira, ele comenta:
"Não há uma especificidade na produção brasileira, assim como não há uma especificidade na produção de qualquer país, pois muitos são os caminhos e estilos e técnicas utilizadas por cada artista. Tentar reuní-los em uma mesma característica seria forçar algo. As especificidades quando se dão às vezes acontecem reunindo artistas de países e culturas muito diversas, que por caminhos diversos vem pesquisando e experimentando por um mesmo caminho. No mais, é muito difícil falar em algo geral. Agora quanto a Minas, podemos falar sim de uma expressividade nacional, ou mesmo em uma expressividade internacional. Alguns dos videoartistas mais consagrados no país e fora são mineiros como Eder Santos e Cao Guimarães. Há uma grande escola de videoarte por aqui."


O 5o FESTIVAL DE ARTE DIGITAL EM BELO HORIZONTE

Grandes nomes da arte digital mundial se encontraram na 5a edição do Festival de Arte Digital – FAD 2011. Realizado entre os dias 1º de setembro e 02 de outubro, em Belo Horizonte, o evento reuniu trabalhos na área digital, que são referências nacionais e internacionais. A proposta do FAD é a de contribuir para a discussão e criação de novos formatos audiovisuais que surgem com as novas tecnologias e mídias digitais. Além disso, convidar a população a uma reflexão sobre essas transformações, possibilitando a troca de informações com experientes realizadores, diretores, técnicos e produtores audiovisuais do Brasil e do mundo.

O tema do FAD deste ano foi a Cinética. Sendo assim, o movimento é o elemento base das obras que foram vistas este ano. Os trabalhos realizaram um diálogo entre si de forma mais próxima e contínua. Ao todo, foram apresentados 21 produções, entre performances, instalações e oficinas, originários de países como França, Itália, Alemanha, EUA, Portugal e Brasil. Durante trinta e três dias, o público contou com uma diversificada programação, que se divide em: FAD Performances, com oito performances audiovisuais; FAD Galeria, com onze instalações audiovisuais interativas; FAD Simpósio, com um simpósio que apresentará quatro debates; e FAD Laboratório, com cinco oficinas.

O FAD Galeria chegou com trabalhos que promoveram interação entre a arte e o público. Instalações interativas, paisagens e objetos animados pelos próprios visitantes, montaram um ambiente desafiador e intrigante. O norte-americano Brandon Barr, apresentou “Hidrostatic Journey to the Origins of Consciousness”. Deitado em um colchão d’água, o espectador assiste a um vídeo projetado em uma tela. A câmera, posicionada no fundo de um tanque, filma, apontada para o céu, enquanto o tanque é transportado de Kansas ao Rio Missouri e de volta à cidade. Karina Smigla-Bobinski, da Alemanha, chega com “ADA”, uma “criatura” pós-industrial que é animada pelos visitantes. O globo, quando em ação, cria uma composição de linhas e pontos que permanece incalculável em sua intensidade, expressão e forma, não importando o quanto o visitante o tente controlar.



Entre as inúmeras apresentações no FAD Performance, esteve a dos mineiros Aruan Mattos e Flavia Regaldo, com “Cicloritmoscópio”. Ensaios fotográficos de diferentes bairros de Belo Horizonte são projetados através de uma estrutura cinética móvel. A exposição é feita com acompanhamento de músicas tocadas ao vivo, mostrando a construção entre elementos visuais e sonoros. Já o Italiano Mikkel, em “Do you sync”, mistura sensações humanas, como medo, alegria, raiva e tristeza, em uma performance audiovisual baseada em ruídos minimalistas, samples e ritmos, com visualizações que utilizam elementos geométricos primitivos. Essa apresentação é fruto da parceria do FAD com o festival roBOt, de Bologna, dentro da programação do Momento Itália-Brasil (MIB).


As oficinas foram com temática livre, nas quais o público pode conhecer novas ferramentas de áudio e vídeo, além da criação de trabalhos de interação, como software livres e apps, para uso profissional ou particular. Nacho Duran e Marcelo Kraiser foram alguns dos responsáveis pelos trabalhos. Durante os quatro dias de Simpósio, foram debatidos os temas: “Arte Digital – Grupo Poéticas Digitais”, com Gilbertto Prado; “Tudo é movimento: da cinética dos autômatos às vanguardas cinéticas do século XX”, com Nina Gazire; “Festivais Europeus e suas Redes”, Francesco Salizzoni; e “V Performance Audiovisual em Meios Digitais e Analógicos”, com Eric Marke.

A quinta edição do Festival de Arte Digital contou com o patrocínio da Petrobras e co-patrocínio da Contax. Como apoiadores estão o roBOt, o consulado italiano, a Prefeitura de Belo Horizonte, a Prefeitura de Bologna, a Lei Federal de Incentivo à Cultura (Ministério da Cultura/Governo Federal) e a Lei Municipal de Incentivo à Cultura (Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte).



SERVIÇO

5º FESTIVAL DE ARTE DIGITAI – FAD
FAD Galeria: 1º de setembro a 2 de outubro
FAD Performance: 1º a 3 de setembro
FAD Simpósio e FAD Laboratório: 5 a 8 de setembro
Local: Museu Inimá de Paula
Endereço: Rua da Bahia, 1201 – Centro – Belo Horizonte/MG
Entrada gratuita
Informações: http://www.festivaldeartedigital.com.br/

FAD EDUCATIVO: Inscrições para os painéis do Simpósio e as oficinas do Laboratório devem ser feitas pelo e-mail educacional@festivaldeartedigital.com.br
Instituições de ensino púbicas ou particulares que tiverem interesse em agendar visitas guiadas devem entrar em contato pelo e-mail educacional@festivaldeartedigital.com.br ou pelos telefones (31) 3213-4320 / 9546-3322.






FAD PAPO 2011


                                                                 FAD PAPO 2011
O Festival de Arte Digital – FAD – buscou disseminar o conhecimento sobre arte digital na capital (mas é nossa intenção fazer ecoar no interior também). Além da programação extensa do festival, que aconteceu até o dia 02 de outubro, no Museu Inimá de Paula, uma parceria com faculdades foi realizada. Então, surgiu o FAD PAPO 2011. A ideia é a de promover um encontro entre profissionais, pesquisadores da área digital e alunos das instituições, propondo um debate do meio acadêmico sobre o tema.
O 1o ENCONTRO DO FAD PAPO 2011
O primeiro encontro será nesta sexta-feira (09.09), no Auditório da Escola de Belas Artes da UFMG, às 14h. O convidado será Guilherme Castro, com o tema “Tecnologia digital e aplicações musicais”. Na ocasião, será discutido como o uso das tecnologias digitais mais recentes tem reconfigurado a prática musical de diversas maneiras; e as aplicações possíveis para um diálogo entre estúdio e performance ao vivo, através de programações desenvolvidas para a banda SOMBA e para o trabalho autoral GASTROPHONIC, dentre outros.
Guilherme Castro – é bacharel em Composição Musical (UFMG); mestre na área de música e tecnologia (UFMG) e doutorando em fundamentos teóricos sobre música e tecnologia (UNICAMP). Já atuou como músico, compositor, arranjador, técnico de som e produtor musical (em trabalhos como: Gastrophonic, SOMBA, Makely Ka, Maísa Moura, A Outra Cidade, Cartoon, Cálix, Orquestra Mineira de Rock, Vezga, entre outros), além de ter trabalhado como programador musical de ringtones (TAKENET). Atualmente é coordenador do curso de licenciatura em Música do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix e professor de História da Música Popular Brasileira no curso de pós-graduação em Produção e Crítica Cultural do IEC-PUC/MG.
O 2o ENCONTRO DO FAD PAPO 2011
Com a proposta de continuar a incentivar as discussões sobre temas relacionados à arte digital no meio acadêmico, aconteceu no dia 13 de setembro, às 19h, na Casa UNA, o segundo encontro do FAD PAPO 2011. O convidado foi Carlos Henrique Falci, que abordou “Memória e arte digital”.
As discussões tiveram como eixo central a criação de memórias coletivas, em ambientes programáveis, e o uso de metadados como auxiliadores no processo de intercruzamento entre memórias comunicativas e culturais. Além disso, foi apresentado um projeto, que utiliza metadados, desenvolvido para memórias de mídias móveis.

Carlos Henrique Falci – é doutor em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina e mestre em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais. É professor no curso de Cinema de Animação/Artes Digitais, na área de arte mídia, na Escola de Belas Artes da UFMG. É membro do grupo de Pesquisa 1maginári0, da UFMG, que produz e investiga obras que conjugam arte e tecnologia. Atualmente, desenvolve pesquisas sobre produção de memórias culturais com uso de metadados e mídias móveis, financiada pela FAPEMIG. Participou de congressos no Brasil e no exterior, em que discute a relação entre memória e tecnologia.

O 3o E ÚLTIMO ENCONTRO DO FAD PAPO 2011O último encontro do FAD PAPO 2011 aconteceu no dia 22/09, com a presença do doutor em Literatura Comparada pela UFMG, Marcelo Kraiser. O evento fez parte da programação especial de aniversário dos 40 anos da Faculdade de Comunicação e Artes da Puc Minas.

O tema discutido foi “Entre o analógico e o digital na criação de sons e imagens”. Kraiser irá apresentar o processo de criação de imagens e sons em vídeos desenvolvidos por ele. Além disso, a transição de fotografias, poemas visuais, músicas para performances, danças e cenas teatrais entre meios analógicos e digitais.

Marcelo Kraiser –  é professor da Escola de Belas Artes da UFMG, graduação nas disciplinas de desenho e fotografia. Doutor em Literatura Comparada pela FALE/UFMG com tese sobre o pensamento de Deleuze e Guattari e a literatura de Clarice Lispector. Artista plástico, poeta, ilustrador e videomaker. Realizou 11 exposições individuais e participou de mais de 40 coletivas em artes plásticas. Compõe trilhas sonoras para performances e dança, colaborando com a Benvinda Cia. De Dança, Quick Cia de Dança, dentre outros. É autor do DVD Para Teus Olhos, com 20 vídeo-poemas, livremente baseados na obra de Clarice Lispector. Dentre os livros publicados de poemas visuais, destacam-se Corpos Seriais e Lucia Rosas, em colaboração com a poeta Vera Casa Nova. Foi um dos coordenadores do projeto ligado à improvisação entre corpo, tecnologia e música Improvisões, no Teatro Marília, Belo Horizonte. Lançou em 2009 em coautoria com Paola Rettore o trabalho Pequenas Navegações, livro e DVD com poemas textuais, sonoros e visuais. Fundou o Creuza-Grupo de Improvisação em Dança, Som, Imagem e Palavra. Mais recentemente participou na concepção, trilha sonora e construção de instrumentos nos espetáculos 10xTorsões e Anjos, Laranjas e Jaburus com a bailarina Izabel Stewart, e da ZIP, Zona de Invenção Poética com performances e poemas visuais.

Bibliografia sugerida para a elaboração de atividades pedagógicas:
COSTA, Cristina. Educação, imagem e mídias. São Paulo: Cortez, 2005.
KRAUSS, Cristina. Apontamentos sobre Video Arte no ensino/aprendizagem de Artes Visuais. Belo Horizonte: EnsinArte, 2009.
PILLAR, A.; VIEIRA, D. O vídeo e a metodologia triangular no ensino da arte. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul: Fundação Iochpe, 1992.

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